6 – Evocação final ao meu pai


Geraldo de Pinho Tavares, sétimo filho de Francisco de Pinho Tavares (Inhô) e Lilian Olinda de São José, nasceu em 27 de junho de 1909 no distrito de Nossa Senhora Mãe dos Homens do Turvo, hoje, Materlândia, e faleceu em 02 de novembro de 1999, em Belo Horizonte. Foi casado, em primeiras núpcias com Mirtes Cunha de Pinho e, após viuvez, casou-se com Maria José de Oliveira (Mariinha). Do primeiro casamento, havido em 15 de dezembro de 1932 com Mirtes Cunha de Pinho, nasceram oito filhos, cinco mulheres e três homens, sendo hoje falecidos três deles, dois homens e uma mulher: Márcio Maria de Pinho (Nonô), Joaquim José de Pinho e Maria da Conceição de Pinho (Sinhá). Geraldo de Pinho viveu vários anos na região de Mãe dos Homens, local onde nasceram seus sete primeiros filhos, mudando-se depois para uma fazenda adquirida no lugar denominado São Nicolau Pequeno, município de São João Evangelista, local onde nasceu seu oitavo e último filho. Em São João Evangelista, cursaram o primário seus filhos mais novos, Joaquim, Letícia e Maria dos Anjos, sendo que esta última veio de Materlândia para São João Evangelista com a idade de quatro anos.

A família de Francisco Pinho Tavares e Lilian

A família de Francisco Pinho Tavares e Lilian. Geraldo é, aparentemente, o maior dos três meninos à esquerda. Imagem doada por Araci de Micol.

Homem de pouca cultura, mas muita sabedoria, Geraldo contava que veio calçar seu primeiro par de sapatos quando adulto e que o pouco de instrução que possuía foi-lhe passada por sua mãe Lílian, pois não chegou a frequentar qualquer escola. Inobstante este fato, era homem muito inteligente, com grande habilidade para questões de negócios e de aritmética, matérias nas quais poucos o superavam. Apreciava muito a boa leitura e constantemente encontrava-se com um livro à cabeceira. Lia de tudo: ficção, romances, clássicos, política, e gostava muito de revistas informativas. Quando já idoso, sem boas condições de locomoção, lia, todos os dias, o jornal Estado de Minas, do princípio ao fim, inclusive as propagandas. Permanecia sempre atualizado com as questões políticas do país. Era católico, homem honrado e trabalhador, excelente agricultor e comerciante, tendo trabalhado efetivamente até mesmo após sua aposentadoria em Belo Horizonte, então nas atividades de compra e venda de imóveis, telefones, e na administração de alguns imóveis de aluguel que possuía.

Geraldo de Pinho Tavares foi exemplo de luta, perseverança e garra. Seu falecimento ocorreu quando contava mais de 90 anos. Em sua velhice enfrentou corajosamente várias doenças que o acometeram, sempre com fé, paciência e um grande amor à vida, saindo vencedor em todas elas, exceto a última, que o venceu em sua luta contra a morte, que deveu-se a uma queda, quando fraturou o fêmur em cinco lugares, o que lhe acarretou três cirurgias, duas para implantação de próteses, ambas sem sucesso, e a terceira para amputação da perna que infeccionou irreversivelmente, tendo falecido algumas horas após a terceira cirurgia, quando se encontrava no CTI do Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Belo Horizonte/MG.

Ainda bem jovem, Geraldo de Pinho sofreu problemas na coluna vertebral, o que o levou a se submeter a diversas cirurgias ao longo de sua vida, sendo que, em uma delas, por erro médico, perdeu a sensibilidade do pé esquerdo, passando a andar com o auxílio de uma bengala, e continuou, mesmo assim, a executar todas as suas tarefas habituais, inclusive a dirigir seu carro.

Mirtes Cunha, minha mãe, pertencia à tradicional família Cunha/Esteves/Motta, da cidade do Rio Vermelho/MG. Foi uma mulher muito bonita em sua juventude, de acordo com fotografias e informações prestadas por pessoas que com ela conviveram quando jovem. Além da beleza física, possuía todas as virtudes de uma boa esposa. Era honesta, trabalhadora, educada, falava e escrevia corretamente e tinha tanto carisma que sua casa estava sempre repleta de amigas e parentes. Era neta do farmacêutico da referida cidade, Joaquim da Cunha, apelidado de Quinquim Botica.

O casal teve uma vida de lutas, porém embasada no respeito e dignidade mútua, muito afeto, carinho e dedicação. Mirtes faleceu em fevereiro de 1966, abruptamente, em decorrência de um infarto.

Desorientado com a morte da esposa, Geraldo permaneceu sozinho por muitos anos, até conhecer Maria José de Oliveira, com a qual veio a se casar, sendo ela sua companheira até a morte.

Versos feitos por meu pai, Geraldo de Pinho Tavares, em sua festa de aniversário, quando completou 84 anos de idade:

“Ficou gravado na memória
Para nunca mais esquecer
Os meus 84 anos
Que não posso refazer
O carinho e dedicação
Que não fiz por merecer.
Toda esta homenagem
Que a mim é dirigida
É um ato de carinho
De pessoas tão queridas
O que desejo a vocês
É saúde, paz e longa vida.

Quem dá amor e carinho
São pessoas muito amigas
Merecem sempre elogios
E são bem compreendidas
É um bom fortificante
A tonificar nossas vidas.

Quem tem amor e carinho
Tem uma mesa sortida
É a ceia que alimenta
A pessoa deprimida
É a grande vitamina
Para o desgaste da vida.
A vitamina do amor
É a melhor do mercado
Em conjunto com o carinho
Alenta o adoentado
É o melhor analgésico
Que coloca a dor de lado”.

Versos feitos por meu pai na festa do Dia dos Pais:

“Esta manifestação
Que acabo de receber
É um ato de carinho
Que não sei agradecer
Peço a Deus Nosso Senhor
Que proteja esta família
Dando saúde e prazer.

Esta triste enfermidade
Me castiga noite e dia
Com uma dor insistente
Que tira minha alegria
Mas a bondade de Deus
Vai me aliviar um dia.

Na família há rico e pobre
Com pessoas diferentes
Mas o que agrada o pai
É ver todos ali presentes
Não há diferença alguma
Entre a família da gente.

Hoje é dia dos pais
E todos estão contentes
Fico muito emocionado
E orgulhoso desta gente
A união da família
Para mim é o melhor presente.

No tempo em que eu tinha pai
Tive um amigo leal
Não existia esta lenda
Que é hoje tão usual
Só por meio de oração
Se podia homenagear.

Fiquem todos bem cientes
Que dia de pai e de mãe
É de janeiro a janeiro
Mas o comércio quer saber
É de faturar dinheiro.”

Últimos versos ditos por meu pai em seu leito de morte:
“Estou querendo colchão de pena
Lençol de piedade
Travesseiro de suspiro
Fronha de matar saudade.

Bate, bate coração
Arrebenta este peito
Já não cabe tanta mágoa
Num espaço tão estreito.”